quinta-feira, 18 de junho de 2009

PALAVREADOS




Dos paradoxos da vida, do que mais tenho desejo são as alegorias utópicas...

Das anedotas da razão, do que mais tenho raiva são as elipses de conduta...

Das metáforas emotivas, do que mais tenho saudades são das hipérboles amorosas...

Das perífrases eloqüentes, do que mais tenho aversão são as discrepâncias sociais...

Dos eufemismos das animosidades, são dos pleonasmos que sinto falha...

Dos acordos gramaticais, do que mais tenho certeza é de te amar...


BAERDAL, Cálice sem fim...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Das saudades que tenho


De tanta saudade que tenho me pergunto o que é saudade?
Respondo: Saudade é caminhar com a lembrança no peito aquilo que foi bom, aquilo que permanece intacto.
Saudade da infância valiosa que só de lembrar-me da saudade.
Saudade dos tempos que não havia tempo para abrir os olhos.
Saudade do bom dia do meu pai, “acorda soldado, vamos exercitar o corpo e a alma”, fazia-me correr a mesa de jantar toda para espantar a danada da preguiça que teimava em não sair.
Tenho até saudades do tempo em que varria a calçada, onde ainda morrendo de sono apanhava todas as folhas secas e as colocava no lixo, do varrer do esgoto, até isso tenho saudades.
Saudades das primeiras letras mal traçadas, do leva e trás do colégio, saudades da frase de meu pai, “vamos soldado, chegar do colégio qual é a obrigação”?
E eu o respondia, tirar a farda e vestir o calção.
Tenho saudades até das impaciências das minhas tias quando me ensinavam às tarefas do colégio.
Saudades das primeiras tias, dos primeiros amigos, até das brigas, saudades do recreio onde todos os meninos se encontravam para jogar bola com papéis ou garrafas de plástico, saudades de quando terminava o jogo e la estava eu, todo suado e debaixo do ventilador.
Saudades das expectativas das notas, dos pedidos de silêncio da professora Quênia, saudades do meu amigo Thadeu, onde tu se encontras?
Saudades do Marcos Vinicius, com quem muito brigava no tempo de 3º série no colégio onde hoje meu filho da os primeiros passos.
Haaaaa, que saudades dos vários muros pulados, dos roubos das mangas, do sal com pimenta do reino que comia escondido, que só de lembrar da água na boca.
Saudade que tenho dos tempos que corria a busca de vaga-lumes e quando pegava – os colocava-os dentro do vidro e falava que era a minha lanterna, dos tempos que também fazia lanternas com latas e velas e saia à procura de sapos com "ferrões" para "capturar" e fazer certas “experiências”... hoo saudade.
Saudades dos jantares em “Paris” com minha irmã, das “roupas finas” que usávamos.
Saudades dos 12 de Outubro, quando eu era o sujeito, saudades dos aniversários, quando cantava parabéns pra você eu só vi pra comer... (risos)
Saudades do tempo que ficava triste por não pagar o ônibus, de quando passeava pela zona sul da cidade no ônibus onde meu estimado tio-pai “pilotava”, saia com os irmãos dava uma volta pela enorme cidade, achava que era uma viagem, era o máximo.
Há que saudades que tenho das manhãs de sábado e domingo, quando ninguém precisava acordar-me, acordava cedo só para a pipa soltar, fitava o céu estático como se só existisse aquele momento, e de fato só existia aquele momento, saudades das tardes em brasas com pedaços de madeiras a correr na busca incessante da pipa mais linda cortada, e a felicidade quando a pegava... Saudades.
Saudades dos jogos de petecas no chão batido da calçada de minha casa, dos buracos, da procura incansável das carteiras de cigarros que valiam fundos e fundos de dinheiro, que por sinal ate hoje as tenho bem guardas.
Saudade dos carrinhos de rolimãs que hoje não os vejo mais.
Saudades da pesca no Parnaíba que nunca sequer um peixe fisguei.
Saudade das gaiolas nos muros dos amigos de infância, com os seus bigodes, Chico pretos, papa capins, todos a cantar, o meu era um colera como tenho saudades dele.
Da minha cachorra chamada lesse, das manhas que saia com meu irmão a banhar no Parnaíba, quando ela fixava o olhar em mim. Como se dissesse como eu estou feliz, saudades quando jogava no rio o graveto, e lá estava ela a pular sem medo no rio, e trazendo seu troféu, nunca esquecerei o exato momento que a perdi, ela com um olhar sereno, fitando os meus assustados e lacrimejando.
Saudade do time da rua, com os jogadores e seus lindos apelidos, tem que listar alguns para matar a saudade, Royal, homem de lata, secamburguer, nuôna, bunda seca, venta de manoê (in-memorian), olho de bomba, calabita, bodin, boca de privada, salva vidas de aquário, testa de amolar facão (in-memorian), lula (in-memorian) olho de gato ladrão, peba... Era o time rio grandence, saudades quando acordava as 06:00 horas para correr o quarteirão todo aquecendo para um jogo que só começaria as 10:00 horas.
Saudade dos “capitães” de meu pai, das tardes de bolacha e banana, como tenho saudades das reuniões das 07:00, era quando reunia todos os meninos da rua, policia e ladrão, o pá, queima, quando escolhíamos um para tirar sarro a noite toda.
Saudade das festas juninas, das quadrilhas, das grandes fogueiras, tinha a do seu Elias, e a do seu Livino essas eram as maiores, dos furtos das geladeiras onde cada um dos amigos, Reginaldo e Marconddys e eu, se comprometíamos em levar algo para por na fogueira, ow saudade boa.
Saudade do barulho da motoca de meu pai que de longe a escutava para quando ele chegasse subisse na garupa e andar um pouco com ele.
Saudade dos passeios das tardes de domingo quando íamos para a praça, brincar sem se preocupar com a segunda.
Saudade das reuniões familiares, das viagens onde todos os primos se encontravam, dos banhos no maranhão, saudades daqueles sorrisos perdidos, da brandura , saudades...
Saudades dos dias de dezembro, onde todos os dias eram natais, da arvore de natal, das luzes piscando como meus olhos de criança...
Saudades, saudades... Porque se passa tudo tão depressa?
Saudades, hoje olho para o espelho e tenho saudades de quem eu fui.



BAERDAL, Cálice sem fim...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

BORBOLETEANDO


Borboleteando...
Hoje a noite é nossa.
O doce ensaio.
A aurora que canta e espanta
Não é a mesma que outrora partiu.


Borboleteando...
Cada dia será uma fabula
O dia e a noite se encontram
O girassol e a borboleta a sorrir
E o céu, jardim a luzir.


Borboleteando...
A minha, a nossa história
No cheiro bom de uma saudade
Esperei e a encontrei.


Borboleteando...
não temas, alivie seu voar.
não recue, beije sem parar.


Borboleteando...
Hoje a noite é nossa
O girassol que se abre
Já é tempo de borboletear.
Hoje e sempre.
Estarei a esperar.

BAERDAL, Cálice sem fim.

SONETO PARA RAIANNA



Tens um rosto angélico, corpo de mulher
Em tua alma e contorno, à perfeição
Ser terno, pensas com o coração
Igual a poucas, tua existência é o que bem quer.

Elo azul em íris, em céu vibrante
Lisos cabelos negros, a decorar o lindo vulto
Bruxa e fada, gata vira borboleta. Arisca, mês de fevereiro...
Quem não cobiçaria ser eleito teu amante?

Perante teu encanto, a estação pára
Frente tua brandura, o mais estúpido homem chora
Deidade a quem a estrela , muito humilde se depara

Musa, nascente eterna, em que o poeta se sustenta
Quase tudo em ti é festa: fazer sofrer quando vais embora
Mulher sensual, louco amor, teu nome meigo “Raianna”.


BAERDAL
Cálice sem fim.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

"BOCADINHO DE GENTE"



Indaga, chove em mim lágrimas.
Deixa-me admirado.
Põe a flama em meu perene lar.
Canto! Encanta! Dança em chamas, Chama! Foge!Dá risada!
Num rodopio que me tonteia só de olhar!
Em meus braços por blindagem se acolhe, e esgotado...
Adormece... Observo o seu sereno ressonar...
Enternecido, agradeço a Deus este presente,
Este afetuoso e encantador “bocadinho de gente!”




Baerdal, Cálice sem fim.

domingo, 7 de junho de 2009

O ALFORJE DO INFANTE


Olha a pedra no meio do asfalto.
Olha a boiada na rua do acaso,
pedindo espaço nessa madrugada.
Olha o gato pulando o muro,
subindo o telhado,
descendo a escada.
Olha a pedra no meio da testa,
descendo o sangue, sorrindo a desgraça.
Olha o menino que passa na rua olhando a menina a pegar o seu gato,
essa menina lhe faz um convite
olhando nos olhos sorrindo em brasas.
É a menina que usa uma saia
e dança ciranda, levanta a toalha e pega a navalha.
O menino disfarça o convite
pega o gato na ponta dos dentes.
O menino que pula o muro,
que sobe a escada e vê a menina
chegando em farrapos.
Olha o menino que vê novamente
A sombra do asfalto escorrendo na mente.
E a boiada que espanta o menino, adia a desgraça
nessa madrugada.
Olha o menino que pega o gato,
coloca a menina dentro do saco e esconde a navalha.
É o menino que pula as cidades,
que banha nos rios
da hilária demência.
É o menino que vê no sorriso
o triste e o contente
o doce da mente que parte a semente que não germinou.
É o menino que pula no rio
deixando o saco de tão assustado.
É o rio da eterna corrente deixando o gato chorar sua dor.
Baerdal, Cálice sem fim...

ALGO PAROU?


Ao voltar para casa todos os dias
Procuro o sentido do que é absurdo.
Piso no chão perdido no dia
E o céu escondido imprevisível.
Sem querer expor a soberba lua.

Vejo alguém no escuro
Um espírito sorrindo de tudo.
Solto gritos de alegria
Para talvez não morrer, se fosse morrer de medo.
Riu de tudo que vejo

A procura do absurdo
Digo adeus ao tudo.
Não me prendo...
Vejo tudo sorrindo.

Solto o que me prende.
Vou viver e rir de tudo.
Irei andar por jardins...
Pular, em oceanos.
e chorar por fim
O relógio jamais parou.


Baerdal, Cálice sem fim...

Gangorra

Quando cerraste os dentes da partida, acalmei a dor da carne nua com compressas de icebergs, para tentar abrandar a saudade que achinca...